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De onde vem o racismo? Será que a abolição da escravatura libertou de fato os negros? Para trazer reflexões sobre estas e outras questões, a juíza Renata do Nascimento e Silva ministrou nesta terça-feira (17/5) a palestra Combate ao Racismo, aos alunos da Escola Municipal Anne Frank, em Palmas. A magistrada, que é uma ativista das causas raciais, atendeu ao convite da Corregedoria-Geral da Justiça (CGJUS-TO), por meio da Coordenadoria da Cidadania (COCID), para tratar o tema com jovens estudantes da rede pública da capital. A palestra, que também ocorrerá, nesta quarta-feira (18/5), às 9h, na Escola Municipal Monteiro Lobato, é alusiva ao 13 de Maio, Dia da Abolição da Escravatura no Brasil e Dia de Luta Contra a Discriminação Racial.

“O Poder Judiciário é a instituição que garante o cumprimento das leis, mas que também tem um importante compromisso social. Por isso, a Coordenadoria da Cidadania, unidade ligada a Corregedoria-Geral da Justiça, tem essa missão, de conscientizar sobre os direitos e deveres de todo cidadão”, explicou a juíza Aline Iglesias, coordenadora da COCID sobre o trabalho que a Justiça do Tocantins tem desenvolvido junto à sociedade, ao abrir a palestra.

Racismo Histórico

Ao falar para alunos entre 12 e 14 anos, a juíza Renata do Nascimento colocou a meninada para pensar sobre comportamentos que nos levam a cometer discriminação racial. A magistrada recorreu ao triste histórico da escravidão no Brasil, desde como os negros eram trazidos da África em porões de navios, como eram maltratados e subjugados. Relembrou que foram 388 anos de escravidão no país, sendo o Brasil o último do mundo a libertar os escravos.

Outra reflexão foi sobre a própria Lei Áurea, promulgada, em 13 de maio de 1888, pela Princesa Isabel, um registro importante na história do país e que é celebrada anualmente. Renata ressaltou que a libertação foi fundamental, mas que não houve nenhum apoio ou estrutura para inserção dos negros livres na sociedade, contribuindo para que muitos, até os dias atuais, vivam à marginalidade social.  

Buscando conscientizar e promover mudanças a juíza também trouxe termos racistas comunmente utilizados por todos. Palavras como denegrir, inhaca, inveja branca, dentre outras que precisam ser substituídas do vocabulário brasileiro. “O negro sempre foi visto como sujo, incapaz, preguiçoso, bandido, feio, que isso está impregnado no consciente popular. O racismo tem um contexto histórico que precisa ser ressignificado”, orientou a magistrada.

A juíza também ressaltou que racismo é crime e que a pessoa que sobre deve denunciar procurando uma delegacia ou o Ministério Público, de modo que o caso possa ser julgado pelo Judiciário.

Ao concluir a palestra, Renata do Nascimento respondeu perguntas dos alunos e ressaltou a importância de se tratar sobre racismo. “Quanto mais cedo a gente falar sobre esse tema que é tão necessário, tão doloroso pra muita gente e que afeta todo mundo, independentemente de ser branco ou preto, o racismo interfere e se espalha na sociedade inteira, quanto mais cedo a gente conversa sobre isso mais a gente tem condições que essas crianças reflitam e tenham uma postura antirracista desde cedo. E tanto mais, evitar que estas crianças e adolescentes vivam experiências racistas que deixam cicatrizes para o resto da vida.”  

Participantes

Após ouvir atentamente à palestra os participantes relataram situações de discriminação racial. A professora e bibliotecária Ana da Silva Fernandes se emocionou ao relembrar fatos racistas vividos por ela. “Tenho uma filha de cor clara e sempre perguntavam se eu era a babá, fiz tranças e disseram que era penteado de bandido, são situações diárias, com o tempo você vai tendo vergonha de si mesma. Minha filha faz Relações Internacionais e hoje ela tenta tirar isso de mim. Fico feliz em receber na nossa escola uma juíza negra, que nos mostra que é possível.”

Uma aluna de 13 anos disse para a juíza, “eu tinha muita vergonha do meu cabelo e você trouxe força pra gente”, já outra da mesma idade relatou que possui uma família de brancos e negros e que em casa trabalham o respeito e combatem a discriminação.

Kassia Carla Fernandes Alves, diretora da escola reforçou a importância de se debater o racismo. “Durante muito tempo acreditou que o brasileiro não era racista por sermos um povo miscigenado, mas isso não é verdade, gestos pequenos retratam a discriminação racial e provocam dor. Essa postura antirracista precisa ser de todos e trabalhar esse tema com essa nova geração é fundamental.”

A gratidão foi retratada pelo talento de uma das crianças, que desenhou a juíza Renata do Nascimento e trouxe "Todos Contra o Racismo". 

13 de maio

O Dia da Abolição da Escravatura é celebrado em 13 de maio no Brasil. Esta data homenageia a Lei Áurea, sancionada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888. Até então, milhões de africanos foram escravizados, e tratados como mercadoria e trazidos para o Brasil para serem usados como força de trabalho nos campos e nas cidades. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão.

A data serve como um mecanismo de conscientização, reflexão e educação para ajudar a erradicar completamente qualquer tipo de preconceito racial.

 Kézia Reis – ASCOM CGJUS-TO